Acervo 1. Ponta de projétil

Fotografia de uma ponta de lança de pedra de cor clara com a parte pontiaguda voltada para baixo. Ela apresenta aspecto liso da ponta até a base, onde pode-se perceber que ela está quebrada e apresenta aspecto rugoso.

No litoral, foi constatado que a presença Jê data de pouco mais de mil anos, ocupando uma região há muito dominada por sociedades sambaquieiras, conforme vimos em nossos textos anteriores. As evidências arqueológicas relacionadas à ocupação Jê, por vezes, são encontradas nos topos dos sambaquis e em assentamentos denominados de sítios rasos, muito comuns no litoral central de Santa Catarina (Florianópolis, Balneário Camboriú e Itajaí).

Os sítios rasos estão implantados sobre areia de praia e possuem camadas arqueológicas com até um metro e meio de espessura incluindo areia, carvão vegetal, ossos de peixes, aves e mamíferos, conchas esparsas ou pequenas concentrações de conchas. Os arqueólogos interpretam a maior parte dos sítios rasos como locais de moradia, mas também de sepultamentos, aliás, estes últimos, em grande quantidade. Contudo, há exceções como o sítio Rio do Meio, localizado em Florianópolis, o qual estava relacionado a uma atividade específica, sendo considerado uma “estação pesqueira”.

O artefato que observamos na imagem, uma ponta de lança esculpida em osso, provém de um destes sítios, o Enseada I, localizado em São Francisco do Sul. As pesquisas arqueológicas no Enseada I identificaram duas ocupações sobrepostas: a primeira, e mais antiga, associada aos grupos construtores de sambaquis; e a segunda, associada a grupos Jê Meridionais.

Sabemos que processos de contato entre populações Jê e sambaquieiras ocorreram por quase toda costa catarinense, sendo por vezes observada integração social e, em alguns casos, o conflito. Há regiões em que parece ter ocorrido uma substituição de populações, em outras, uma continuidade é mais plausível. Sabemos que existiram condições para a troca de tecnologias e/ou pessoas, sem necessariamente uma população ser substituída pela outra.

A interação entre estas diferentes populações indígenas é complexa, e apesar de ser tema de debate entre os arqueólogos há alguns anos, ainda permanece como uma lacuna a ser melhor estudada.

Saiba  sobre o tema nas demais publicações!

 

Ponta de projétil: sítio Enseada I, São Francisco do Sul. Medidas: 4,9cm comprimento x 1,8cm largura.

 

Sugestões bibliográficas para aprofundamento:

BEBER, M. V. 2004. O sistema do assentamento dos grupos ceramistas do planalto sul-brasileiro: o caso da Tradição Taquara/Itararé. Tese (doutorado), UNISINOS, 2004.

De BLASIS,P., FARIAS, D. S., KNEIP, A. Velhas tradições e gente nova no pedaço: perspectivas longevas de arquitetura funerária na paisagem do litoral sul catarinense. R. Museu Arq. Etn., 24: 109-136, 2014.

GILSON, S.-P.; LESSA, A. Arqueozoologia do sítio Rio do Meio (SC): discutindo estilo de vida de pescadores-caçadores-coletores através de uma abordagem ecossistêmica. Revista de Arqueologia, [S. l.], v. 34, n. 1, p. 217–248, 2021.

GILSON, S.-P.; LESSA, A. Ocupação tardia do litoral norte e central catarinense por grupos pescadores-caçadores-coletores: uma revisão crítica do contexto cronológico dos sítios rasos com presença de cerâmica. Revista de Arqueologia, [S. l.], v. 33, n. 1, p. 55–77, 2020.