Acervo 3. Colar de conchas

Fotografia de um colar feito de inúmeras conchas pequenas e de formatos semelhantes unidas por uma perfuração no centro de cada uma delas. Pode-se observar uma numeração escrita em algumas das conchas.

Você costuma usar colares? Em quais ocasiões? Assim como hoje, a utilização de colares também era comum no passado. Na imagem acima vemos um colar feito de conchas que acompanhava um sepultamento humano. Cada concha era previamente trabalhada para se chegar à forma de um disco com o centro perfurado. Neste orifício era então introduzida uma fibra vegetal (a corrente da época) para compor a finalização do colar. Não só conchas serviam como adorno, mas também dentes de mamíferos e de tubarões. Possivelmente, estes colares também eram utilizados pelas pessoas em vida.

Podemos imaginar que muitos dos adornos não deixaram seus testemunhos nos sítios arqueológicos por conta dos inúmeros processos de decomposição que materiais orgânicos sofrem após seu enterramento. Assim como a fibra, que unia as conchas formando o colar, penas, plumas, trançados e cestarias poderiam fazer parte dos enfeites destas pessoas, mas, infelizmente, não se preservaram pelas condições do solo e do próprio material de que eram formados.

Nos sítios litorâneos, as pessoas eram sepultadas dentro das cabanas ou em cemitérios domiciliares com espaços delimitados, possivelmente cercados e fora das habitações. As pesquisas arqueológicas também apontam que os espaços funerários eram reocupados causando a sobreposição de sepultamentos.

Análises isotópicas de estrôncio podem ajudar a elucidar algumas questões importantes sobre mobilidade. O estrôncio ingerido pelas pessoas através dos alimentos e consumo de água é absorvido por ossos e dentes, no entanto, como os ossos estão sempre se remodelando, a assinatura isotópica registrada diz respeito aos últimos sete a dez anos de vida daquela pessoa. Por outro lado, o esmalte dentário não sofre com remodelações ao longo da vida, o que faz com que o estrôncio amostrado esteja diretamente relacionado entre o início da gestação e a adolescência, período de formação dos dentes. Amostras de esmalte dentário e dentina de indivíduos de sítios arqueológicos litorâneos revelaram que todos eram provenientes do litoral, inclusive do próprio sítio do qual provinham, ou seja, nenhum dos indivíduos havia migrado do interior. Entretanto, há muito mais sítios com remanescentes ósseos humanos que não passaram por este tipo de análise e que poderiam corroborar ou não com estes dados (para saber mais sobre este tema interessante, sugerimos a leitura da tese de doutorado de Murilo Quintans Ribeiro Bastos).

Portanto, ainda há muitas discussões e debates sobre os processos de contato, trocas de tecnologias e/ou pessoas, migração, substituição de um grupo pelo outro, integração, o que torna o tema ainda mais fascinante.

 

Colar de conchas: Sambaqui Enseada, São Francisco do Sul. Medidas: 19cm x 17cm aproximadamente.

 

Para saber mais:

BASTOS, MURILO QUINTANS RIBEIRO. Dos sambaquis do sul do Brasil à diáspora africana: estudos de geoquímica isotópica de séries esqueléticas humanas escavadas de sítios arqueológicos brasileiros. Tese (doutorado) Universidade de Brasília, Brasília, 2014.