Acervo 2. Anzóis

Fotografia de cinco anzóis de pedra clara, dispostos alinhados horizontalmente com a ponta voltada para a direita do observador. Todos os cinco anzóis se assemelham quanto ao formato, porém o primeiro, o quarto e o quinto anzol se assemelham não só na forma quanto no tamanho. O segundo e o terceiro anzol são semelhantes no tamanho, sendo maiores que os demais.

Pescar é uma das atividades mais expressivas e possivelmente uma das mais antigas da humanidade, e diferentes grupos humanos utilizaram distintos, mas também semelhantes objetos para a pesca, como redes, arpões e anzóis como estes. Ao observarmos seus detalhes podemos ter em mente como foram utilizados e até mesmo qual tipo de animal se pretendia capturar. Possuem um design característico que pouco se alterou ao longo dos séculos.

Os anzóis observados na imagem foram produzidos a partir de ossos de animais, que poderiam ser de mamíferos terrestres ou aves e estão associados aos grupos Jê que ocuparam o sítio arqueológico Enseada I e os arredores da baía da Babitonga. Foi no topo do Enseada I que arqueólogos evidenciaram os anzóis e exemplares da cerâmica Itararé. Nessa camada de ocupação estavam presentes bolsões de conchas e estruturas de fogueiras, associadas a sedimentos de cor escura e grande quantidade de ossos de animais. As pesquisas zooarqueológicas revelaram a presença de uma vasta gama de espécies. Sabemos que existia um elevado consumo de peixes e, em menor proporção, moluscos, crustáceos, aves, mamíferos e répteis. Essa variabilidade demonstra uma preferência pela exploração do ambiente costeiro, mas animais terrestres também tinham parte na alimentação. Esse mesmo tipo de anzol foi encontrado no sítio Praia das Laranjeiras II, localizado em Balneário Camboriú, e considerado um sítio raso.

Características da dieta dos grupos Jê no litoral também foram obtidas através da análise de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio. Tais análises avaliam as composições isotópicas de carbono e nitrogênio em nosso corpo, diretamente relacionadas à ingestão de alimentos. Essas substâncias se integram a ossos e dentes durante os processos de renovação dos tecidos. Por meio dos diferentes valores obtidos, é possível identificar as fontes da alimentação, sejam elas de origem vegetal ou animal e, neste caso, se o maior consumo ocorre entre a fauna marinha ou terrestre. Os dados obtidos a partir de amostras dos sítios arqueológicos da região da baía da Babitonga, associados à ocupação Jê, indicam uma maior diversificação da dieta, onde os recursos marinhos são complementados pelo consumo de animais terrestres e de vegetais. Já para outros sítios litorâneos a dieta marinha predominava, incluindo o consumo de animais de alto nível trófico, como os tubarões e mamíferos marinhos.

A alimentação humana deixa diferentes marcas e vestígios, e os arqueólogos estão sempre atentos a novas tecnologias que ampliem o acesso a informações e a forma de vida das populações do passado.

Dimensões das peças: entre 3,5cm a 2,0cm comprimento x 1,0 a 1,5cm largura.

Para saber mais:

BANDEIRA, DIONE & FOSSILE, THIAGO. Alimentação, adaptação e origem no sambaqui Enseada I, São Francisco do Sul, SC Patrimônio arqueológico pré-colonial de Santa Catarina (2014).

BASTOS, M.Q.R.; LESSA, A.; RODRIGUES-CARVALHO, C.; TYKOT,
R.H.; SANTOS, R.V. Análise de isótopos de carbono e nitrogênio: a dieta
antes e após a presença de cerâmica no sítio Forte Marechal Luz. R. Museu Arq.
Etn., 24: 137-151, 2014.

BECK, ANAMARIA. A variação do conteúdo cultural dos Sambaquis do litoral de Santa Catarina. Clássico da Arqueologia. Erechim RS: Habilis, 348pp. 2007.