Acervo 3 – Artefatos bélicos – militares

Durante os séculos XVIII e XIX os soldados e oficiais responsáveis pela defesa das fortificações da Ilha de Santa Catarina dispunham de uma gama de armas diferentes daquela que conhecemos hoje. À época, a tecnologia de ponta era direcionada à fabricação de mosquetes, pistolas, espadas e canhões. A produção de tais artefatos estava restrita a poucas nações que já caminhavam para a industrialização, como a Inglaterra, que exportava armas em larga escala para o império português. Dentre o conjunto de artefatos bélicos também faziam parte pederneiras e balas de canhão, como as apresentadas nas imagens a seguir, encontradas na Fortaleza de São José da Ponta Grossa.

Fotografia colorida de bola de ferro de cor acobreada.

Bala de canhão, Fortaleza São José da Ponta Grossa. Medida: 43cm de diâmetro

 

As balas de canhão são projéteis maciços e esféricos, geralmente de ferro, compatíveis com o calibre específico de cada canhão. No ano de 1786 o levantamento realizado pelo Alferes José Correia Rangel menciona 31 peças de artilharia na fortaleza, sendo 26 canhões de ferro e cinco canhões de bronze, com calibres entre 2 e 24 libras. Ficavam dispostos ao longo das muralhas, direcionados principalmente para o mar, local de onde se temia que ocorressem ataques, como sucedido no ano de 1777 com a invasão espanhola.

Pederneira em sílex . Fortaleza São José da Ponta Grossa. Medidas: 3,0cm x entre 2,5cm.

Já as pederneiras eram utilizadas em armas menores, como pistolas, espingardas ou mosquetes. Faziam parte do sistema de ignição das armas, sendo responsáveis por produzir a faísca quando percutidas contra o metal, assim acendendo a pólvora para o disparo. Eram produzidas a partir do lascamento manual de rochas de grande dureza, sendo o sílex a matéria-prima mais comum para este uso. A morfologia das peças é comumente retangular ou em forma de “D”, mas na Fortaleza de São José da Ponta Grossa algumas parecem ter sido retrabalhadas para servir a diferentes funções, apresentando morfologias variadas.

Para além dos artefatos, a arquitetura da fortaleza e a disposição espacial de seus edifícios são também uma demonstração do poder e da hierarquia militar. Acompanhando o relevo da encosta, a fortaleza foi construída em cotas de nível distintas, com edifícios distribuídos em três terraplenos: no primeiro estão localizadas a Casa da Palamenta (local para guarda de ferramentas e demais utensílios necessários à artilharia), a Casa da Guarda e o Calabouço; no segundo, a Cozinha e o Quartel da Tropa; e no terceiro, acima de todos, a Capela de São José, a Casa do Comandante e o Paiol (local para guarda de pólvora e munições). Tal disposição espacial servia a diferentes propósitos, os quais vão além da organização e do funcionamento das atividades cotidianas que ocorriam em seu interior, pois reforçava e legitimava a ordem social então estabelecida.

Num panorama mais amplo, considerando-se a paisagem na qual a Fortaleza está implantada, pode-se considerar que sua imponência evoca uma função simbólica enquanto um marcador territorial português. Servindo como portais de acesso à região, as fortalezas podiam ser vistas a longas distâncias e a partir de diferentes ângulos, visibilidade proporcionada pela horizontalidade característica da paisagem costeira, frequentemente registrada nos relatos de viajantes que por ali passavam. A ampla visibilidade também tinha como função a constante vigia das embarcações que se deslocavam no espaço marítimo, intervisibilidade que permitia a comunicação por meio de sinais visuais ou sonoros com aqueles que chegavam ou saíam das baías.

Para saber mais, sugerimos o acesso aos seguintes materiais:

A Pesquisa Arqueológica do Sítio Histórico São José da Ponta Grossa, artigo de Teresa Domitila Fossari e colaboradores publicado nos Anais do Museu em 1992 

Para além das muralhas: dos fragmentos ao monumento: Fortaleza de São José da Ponta Grossa, catálogo coordenado por Ana Cristina de Oliveira Sampaio e Bruno Labrador Rodrigues da Silva.

Arqueologia das fortificações: perspectivas, publicação organizada por Fernanda Codevilla Soares e colaboradores.

Banco de Dados Internacional Sobre Fortificações, coordenado por Roberto Tonera.