Oficinas Líticas
As imagens acima mostram oficinas líticas de polimento produzidas e utilizadas por grupos pré-coloniais e localizadas em praias de Santa Catarina. A primeira delas retrata uma bacia de polimento na praia da Armação do Pântano do Sul, Ilha de Santa Catarina, produzida sobre um bloco de basalto. Assim como ocorreu com outros contextos como este, o bloco foi deslocado de seu local original, sendo reutilizado, neste caso, para compor parte de uma estrutura relacionada à antiga armação para pesca das baleias, período em que os colonizadores europeus já haviam chegado à Ilha de Santa Catarina, mas isso é uma outra história! A segunda imagem mostra um conjunto de afiadores em canaletas localizados na praia da Ferrugem, Garopaba.
Oficinas líticas de polimento são sítios arqueológicos encontrados em rochas fixas e próximas ao mar, muito perto de ocupações de populações pré-coloniais, incluindo sítios de representações rupestres. Porém, engana-se quem acha que no interior do estado não há este tipo de sítio arqueológico, apenas não foram levantados e estudados sistematicamente como ocorreu no litoral. No interior estão próximos a rios e cursos de água. Para saber mais indicamos “As oficinas líticas de polimento no interior de Santa Catarina”, de Ana Lucia Herberts, Rodrigo Lavina, Fabiana Comerlato e Carlos Costa.
Encontradas em todo o litoral catarinense, porém em maior número no litoral central, as oficinas líticas de polimento, também denominadas de “amoladores-polidores fixos” e “moinhos de bugre”, são sítios localizados em superfícies de matacões e afloramentos rochosos de praias e caracterizam-se por conjuntos de concavidades alisadas em forma de bacias e caneletas, como mostra a imagem de nossa postagem.
Mas você sabe por que as oficinas líticas de polimento estão sempre próximas à praia? Porque para polir e afiar artefatos líticos (e ósseos também), é necessário não apenas o suporte (rocha), mas areia e água, para que o trabalho de abrasão dê a forma desejada ao artefato, como, por exemplo, uma lâmina de machado. Para saber mais indicamos “Oficinas líticas do litoral de Santa Catarina, Brasil”, de Fabiana Comerlato.
Consideradas áreas de atividades específicas, local onde os artesãos se deslocavam e provavelmente se reuniam para produzir seus artefatos, muitas delas estão próximas a sítios arqueológicos relacionados aos três grupos pré-coloniais que habitaram o litoral catarinense (as populações construtoras de sambaquis, os Jê Meridionais e, os Guarani), indicando, possivelmente, que todos eles utilizaram estas áreas para produzir seus artefatos. A pesquisa realizada por Maria Madalena Velho do Amaral, em sua dissertação de Mestrado “As oficinas líticas da Ilha de Santa Catarina”, aborda o tema em detalhes (a dissertação, de 1995, não está disponível em meio digital).
Mas quanto tempo seria necessário para produzir um artefato? Trabalhos de arqueologia experimental realizados pela arqueóloga Daniela Sophiatti revelaram quanto tempo de esforço e trabalho seria preciso para produzir uma bacia de polimento e uma lâmina de machado. Ela fez uma pré-forma de lâmina de machado através do lascamento de uma pedra e selecionou uma rocha para ser o suporte que viraria a bacia de polimento. Daniela levou aproximadamente 8h contínuas de trabalho para conseguir gerar as formas encontradas nas oficinas de polimento e na lâmina de machado, demandando grande investimento de energia e força física. Podemos dizer que a tendinite já deveria existir na pré-história! Para saber mais indicamos “Os amoladores-polidores fixos na paisagem da Ilha de Santa Catarina”, de Daniela Sophiati.
A preservação das oficinas líticas é bastante preocupante, estando ameaçada, principalmente, pela ação humana através da depredação e da intensa especulação imobiliária que ocorre há décadas no litoral catarinense.
Para saber mais (compilados das sugestões do texto)
“As oficinas líticas de polimento no interior de Santa Catarina”, trabalho de Ana Lucia Herberts, Rodrigo Lavina, Fabiana Comerlato e Carlos Costa.
“Oficinas líticas do litoral de Santa Catarina, Brasil”, artigo de Fabiana Comerlato.
“Os amoladores-polidores fixos na paisagem da Ilha de Santa Catarina”, dissertação de mestrado de Daniela Sophiati.