Acervo 1 – Fragmento de cerâmica pintada

Fotografia de fragmento de cerâmica pintada, de formato irregular, que aparenta fazer parte de um objeto cilíndrico. Tem superfície lisa, com exceção das partes onde foi quebrada. A pintura é mais clara que a argila e segue padrão geomético, Na borda superior apresentam-se setas desenhadas, perfiladas horizontalmente, com as pontas voltadas para a esquerda do observador. Na parte inferior vè-se desenhos circulares e o perfil de uma ave com o bico voltado para a direita do observador.Como falamos no texto acerca destas populações, o que mais se recupera em um sítio arqueológico Guarani é a cerâmica, como este belo fragmento pintado que você vê na imagem. Cadastrado em 1987 pela então arqueóloga do MArquE, Teresa Fossari, o sítio arqueológico Maciambu I, localizado em Palhoça, estava parcialmente destruído por conta da constante retirada de areia para comercialização. Além deste belo fragmento pintado, foram coletados um grande recipiente cerâmico com decoração plástica corrugada, vários fragmentos cerâmicos lisos, pintados formando desenhos geométricos (em vermelho, ou vermelho e preto, sobre uma base branca), corrugados (impressões regulares da ponta dos dedos), ungulados (usando a borda da unha ou um instrumento pontudo) e escovados (com a espiga de milho); e, em menor quantidade, artefatos líticos como pesos de rede.

As vasilhas cerâmicas Guarani recebem denominações distintas de acordo com suas funções e dois conjuntos principais foram definidos: o primeiro conjunto formado por vasilhas para transformar ingredientes em alimentos, denominados yapepós, ñaetás e cambuchis; e o segundo conjunto formado por tigelas usadas como pratos (ñae), e as usadas para beber (cambuchí caguabã). Estas peças, portanto, certamente estavam relacionadas a funções diferentes.  Os yapepós ou as panelas tinham seu uso principal no fogo, já os cambuchís eram vasilhas que tinham como função principal fermentar, armazenar e servir bebidas como o cauim, muito ingerido em cerimônias festivas. As vasilhas que serviam de copo para beber o cauim eram denominadas de cambuchí caguabã.

Análises arqueométricas (análises físico/químicas que identificam componentes presentes nas cerâmicas) têm auxiliado muito na identificação de vestígios que o olho humano sozinho não consegue enxergar. Por exemplo, podemos saber quais componentes minerais e/ou vegetais (pasta e antiplástico), eram utilizados para produzir as cerâmicas; se a argila utilizada estava disponível próximo ao sítio ou não; quais tipos de tintas eram empregadas na pintura das cerâmicas e se as mesmas se originavam de pigmentos minerais e/ou vegetais; o que estava sendo cozido e consumido nos recipientes; quais componentes se agregaram às peças após seu descarte e/ou depósito no solo; portanto, uma grande quantidade de informações que ajudam a interpretar os costumes e modo de vida dos Guarani.

Mas quem confeccionava a cerâmica? Eram as mulheres da aldeia que detinham o conhecimento empírico (capacidade de observar e experimentar) das técnicas vinculadas a todo o processo. Por exemplo, a quantidade de calor necessária para a queima das cerâmicas; o tipo de material utilizado na pasta e no antiplástico e o tipo de decoração empregado nas peças de acordo com as funções de cada recipiente; a escolha do pigmento e a pintura das vasilhas obedecendo traços simétricos firmes e precisos, verdadeiras artesãs. Além disso, podemos dizer que a reciclagem de materiais já existia naquela época, pois fragmentos de cerâmica podiam ser reutilizados como antiplástico na elaboração de novos recipientes.

Para saber mais, além das sugestões que inserimos aqui, convidamos você a conhecer os seguintes materiais:

Materiais pictóricos da cerâmica Guarani do alto Uruguai a partir de medidas de fluorescência de raios X, artigo de Mirian Carbonera, Carlos R. Appoloni e Gustavo H. dos Santos.

Estudando a cerâmica pintada da tradição Tupiguarani : a coleção Itapiranga, Santa Catarina, dissertação de Kelly Oliveira.

Arqueometria em cerâmicas Guarani no sul do Brasil: um estudo de caso, artigo de Rafael Guedes Milheira, Carlos Roberto Appoloni e Paulo Sérgio Parreira

Perfil tipológico da indústria cerâmica Guarani da região sul de Santa Catarina, artigo de Rafael Guedes Milheira, Deisi Scunderlick Eloy de Farias, Luana Alves

Ceramistas pré-coloniais da Baía da Babitonga, SC – Arqueologia e Etnicidade, dissertação de Dione da Rocha Bandeira.

Dados do Acervo: Fragmento de cerâmica pintada: sítio Maciambu I, Palhoça. Coletores: Fossari e colaboradores, 1987. (Medidas: 8,9cm x 9,3cm). Acervo MArquE.